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Investigação estuda cérebro de bebés para compreender impactos da interação com adultos no desenvolvimento social e da linguagem

Investigar o funcionamento do cérebro de bebés, através de momentos em que partilham o foco de atenção com adultos, identificando as áreas cerebrais que são mais ativadas e se relacionam posteriormente com o desenvolvimento social e da linguagem é o objetivo central de um projeto de investigação liderado pela Universidade de Coimbra (UC). Com este estudo, a equipa pretende contribuir para identificar marcadores neuronais que possam, futuramente, ajudar a identificar precocemente crianças que apresentem maior risco de dificuldade na interação social e na comunicação.

Financiado com cerca de 250 mil euros (249 679,61 euros) pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o projeto de investigação SocialBabyBrain – Correlatos neurais da atenção partilhada: uma base fundamental para o desenvolvimento subsequente da competência social vai estar em curso até 2026,estando a ser implementado em Coimbra, onde bebés e suas famílias começam na próxima semana a participar no estudo.

“A atenção partilhada – ou seja, a forma como os bebés coordenam com um adulto a sua atenção em relação a um objeto – é um marco importante na forma como compreendem o mundo social que os rodeia”, contextualiza a investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Vera Mateus.

Assim “conhecer os mecanismos cerebrais subjacentes ao desenvolvimento desta habilidade de interação social pode ajudar a identificar precocemente padrões comportamentais e neuronais que constituem maior risco para dificuldade na interação social e comunicação com os outros”, elucida a também coordenadora do projeto SocialBabyBrain.

No estudo que vai ser desenvolvido com os bebés, vão decorrer várias atividades que têm como base momentos de brincadeira. “Eles vão realizar algumas brincadeiras com uma investigadora da equipa, usando alguns brinquedos”, explica Vera Mateus.

Técnica não invasiva e segura

“Numa das atividades, o bebé usa uma touca elástica com sensores – técnica não invasiva e totalmente segura – que nos permite aprender como funciona o seu cérebro. Esta técnica, denominada espectroscopia funcional por infravermelho próximo (fNIRS), regista a ativação do cérebro durante os momentos de brincadeira, permitindo identificar quais as áreas mais ativas nos momentos de interação”, contextualiza a investigadora.

Além das atividades com a investigadora, o estudo contempla ainda um momento de brincadeira entre a mãe e o bebé e alguns questionários para conhecer a família e o bebé.

Sobre os resultados que a equipa de investigação pretende alcançar, Vera Mateus explica que “a partir da recolha de dados comportamentais e de neuroimagem, para além de investigar mudanças ao longo do tempo no cérebro dos bebés, este projeto permitirá compreender como as manifestações comportamentais da atenção partilhada se relacionam com a maturação de áreas cerebrais específicas, e explicam as diferenças individuais em habilidades sociocomunicativas que surgem mais tarde, como a linguagem e a competência social”.

Vera Mateus avança ainda que os resultados deste estudo podem também “ajudar a informar programas de intervenção precoce, direcionados a pais e profissionais de saúde e de educação que lidem com crianças desta faixa etária, com a finalidade de promover trajetórias de desenvolvimento mais positivas”.

Atualmente, existe já algum conhecimento produzido sobre os mecanismos cerebrais associados à atenção partilhada em bebés e crianças.

No entanto, “esses estudos tendem a focar-se em um único momento de avaliação e, como tal, o nosso projeto foi pensado também para preencher esta lacuna no conhecimento”, avança a investigadora.

Participam ainda no projeto mais duas investigadoras do CINEICC, Ana Ganho Ávila e Mónica Sobral; a investigadora da Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo, Brasil, Ana Osório; e a investigadora da Universidade Lusíada – Porto, Sara Cruz.

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